Sob o nome de Iberconejo, foi criado um novo projeto LIFE para implementar um sistema de governança para a gestão do coelho-bravo na Península Ibérica. Entre os seus objetivos: melhorar o estado das suas populações em várias zonas e, ao mesmo tempo, evitar os danos que causa à agricultura noutras.
O projeto, financiado pelo programa LIFE da União Europeia, conta com representantes de todos os stakeholders envolvidos na sua gestão: associações de conservação da natureza, cientistas, agricultores, caçadores e administrações, e é liderado pela WWF Espanha. O LIFE Iberconejo reflete o compromisso de diferentes atores para um objetivo comum e será desenvolvido tanto em Portugal como em Espanha até dezembro de 2024.
Neste projeto, 15 entidades com perfis muito diversos e complementares participam como parceiras, procurando resolver os problemas de gestão da espécie, incluindo todos os interesses e pontos de vista, através de uma estrutura de governança participativa. Um desses problemas é a falta de informação sobre o estado atual das populações de coelho-bravo e sobre o seu impacto do ponto de vista económico. Um segundo problema é a falta de consenso sobre as melhores práticas de gestão e a falta de um princípio de governança que integre ações a diferentes escalas e coordene o trabalho de diferentes entidades/interesses.
O principal desafio é, portanto, conhecer o estado das populações de coelho-bravo, o seu estado sanitário e os danos que esta espécie causa em algumas zonas da Península Ibérica, ponto de partida essencial para uma boa gestão da espécie. Para tal, será concebida e promovida a adoção coordenada de protocolos normalizados de monitorização das populações de coelho-bravo, com a devida formação de recursos humanos para o efeito.
Paralelamente, será efetuado um trabalho de compilação de boas práticas de gestão regional, tanto para a promoção das populações em várias zonas, como para a redução dos danos causados noutras. Ao mesmo tempo, será criado um sistema de governança que incluirá progressivamente todos os atores-chave e todas as administrações com competências na gestão desta espécie, para além das envolvidas no projeto.
Endémica da Península, o coelho-bravo é uma espécie-chave no ecossistema de montado mediterrânico, onde desempenha um papel fundamental como presa de cerca de 40 espécies de predadores (como o lince ibérico ou a águia-imperial). É também um verdadeiro “engenheiro do ecossistema”, com uma grande capacidade de modificar o seu ambiente e, consequentemente, a disponibilidade de recursos para si e para outras espécies. Tem também de grande interesse socioeconómico por ser peça de caça menor e a espécie que mais danos causa à agricultura, principalmente em Espanha.
Coelho-bravo em perigo de extinção
Nos últimos 70 anos, as populações de coelhos na Península Ibérica diminuíram mais de 90% devido a alterações no uso do solo e a doenças. Este facto levou a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) a declará-lo como “Em Perigo” em 2019.
O projeto LIFE Iberconejo é um passo essencial para estabilizar as populações de coelho-bravo e restaurar o seu papel fundamental no ecossistema, mas, ao mesmo tempo, garantir que esta promoção da espécie-chave mediterrânica não causa danos à agricultura.
Ramón Pérez de Ayala, coordenador do LIFE Iberconejo na WWF, resume o projeto da seguinte forma: “O LIFE Iberconejo lançará as bases para a gestão a longo prazo do coelho-bravo. Embora não possamos ter a pretensão de resolver os complexos problemas que afetam a espécie, nem possamos esperar uma recuperação global das suas populações no período abrangido pelo projeto, a realidade é que sem as soluções que este LIFE irá desenvolver e implementar, não é possível abordar uma gestão eficaz que nos permita manter os nossos ecossistemas, reduzindo os conflitos sociais associados”.
O LIFE Iberconejo é coordenado pela WWF Espanha e tem como parceiros outras organizações ambientais – Fundación para la Conservación de la Biodiversidad y su Hábitat (Fundación CBD Hábitat) e Associação Natureza Portugal em Associação com a WWF (ANP|WWF) -; centros de investigação – Universidade de Castilla-La Mancha (IREC-UCLM), Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), Faculdade de Ciências da Universidade do Porto /CIBIO-BIOPOLIS, Agencia Estatal Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC/IESA), Fundación Universitaria San Pablo CEU -; entidades agrícolas – Unión de Pequeños Agricultores y Ganaderos (UPA) – e entidades cinegéticas (Real Federación Española de Caza (RFEC) e Associação Nacional de Proprietários e Produtores de Caça (ANPC).
Para além destes parceiros, existem também várias administrações, como os governos regionais da Andaluzia, Castilla-La Mancha e Extremadura, bem como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) em Portugal.